Se você quer celebrar o Dia das Crianças com todos os clichês das propagandas da tevê e slongans de shopping, este texto não é para você.
Não me levem a mal. Apesar de não concordar com a obrigatoriedade dos presentes, esta é a data comercial com a qual mais simpatizo, porque faz os homenageados sinceramente felizes. Mas mesmo assim não acredito que todos estes discursos sobre a infância façam sentido.
Longe dos arquétipos que as tornam quase divinas, crianças têm raiva, ciúme, inveja. Mentem, manipulam. Afinal, são humanos, só que na fase inicial da vida. E isso faz toda a diferença.
Mesmo com todas as pequenezas do nosso ser, crianças são seres humaninhos. Mas com pouca experiência. A tal pureza das crianças vem do pequeno intervalo de tempo durante o qual foram expostas a contaminação do mundo que as cerca.
Quando querem algo ou se alguma coisa as incomoda, os sinais são claros. O medo do escuro, o xixi na cama, o desenho rabiscado, o choro,
Elas refletem o meio. Refletem o adulto no qual se espelham. A formação do seu caráter depende daqueles que a influenciam. Têm uma vontade imensa de ser amadas. Mas são seres com personalidade, desejos e talentos próprios.
Crianças nos surpreendem com suas conclusões tão lúcidas. Resultado dos raciocínios mais simples e limpos de vícios. “Se você me ama você não me machuca”, pensa uma criança que estava tranqüila brincando quando é agredida pelo pai. E esta mesma criança, quando desobedece todas as regras para chamar atenção e é ignorada, pensa: “se você me amasse, brigaria comigo”. Simples assim, mas ao mesmo tempo complicada como qualquer humano.
As perguntas infantis são tão difíceis de responder porque carregam as dúvidas mais eternas. Elas nos fazem pensar no que está sempre à nossa frente mas nem sempre queremos ver.
Na voz das crianças, eu te amo é mais verdadeiro. E chocam mais as palavras duras.
Talvez o que mais nos encante não seja a inocência, porque nem sempre são inocentes. Nem a doçura, porque nem sempre são doces. Mas a vontade de viver, que desde os primeiros momentos faz com que agarrem o peito e suguem a vida, mesmo sendo um dos mamíferos mais indefesos ao nascer. A força com que nos abraçam e encaram o desconhecido. A coragem com que enfrentam coisas que nem o mais forte dos adultos é capaz de lidar. E sobrevivem. Sobrevivemos.
São tinhosas estas crianças.
Postado por Mônica Torres.
Os dilemas femininos modernos, sem caretice ou fórmulas prontas feministas, descritos pela editora-assistente do caderno de Lazer do Santa, Mônica Torres.