Bem Vindos

Uma alegria e tanto recebê-los aqui. Queremos muito que essa passagem nos surpreenda, assim como a vocês também. Afinal de contas, é a vida... uma sucessão de encontros, mesmo que nestes últimos tempos, virtuais. É a vida, a nossa!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Reprovação escolar? Não, obrigado.

Pouca coisa é tão cercada por equívocos, em nossa escola básica, quanto a questão da reprovação escolar, que se perpetua como um traço cultural autoritário e anti-educativo. Começa pela abordagem errônea de avaliação na qual se sustenta. Em toda prática humana, individual ou coletiva, a avaliação é um processo que acompanha o desenrolar de uma atividade, corrigindo-lhe os rumos e adequando os meios aos fins. Na escola brasileira isso não é considerado. Espera-se um ano inteiro para se perceber que tudo estava errado. Qualquer empresário que assim procedesse estaria falido no primeiro ano de atividade. E mais: em lugar de corrigir os erros, repete-se tudo novamente: a mesma escola, o mesmo aluno, o mesmo professor, os mesmos métodos, o mesmo conteúdo... É por isso que a realidade de nossa escola não é de repetentes, mas de multirrepetentes.
Absurdo semelhante ocorre quando se trata de identificar a origem do fracasso. A atividade pedagógica que se dá na escola supõe um quase infindável conjunto de atividades, de recursos, de decisões, de pessoas, de grupos e de instituições, que vão desde as políticas públicas, as medidas ministeriais, passando pelas secretarias de educação e órgãos intermediários, chegando à própria unidade escolar em que se supõem envolvidos o diretor, seus auxiliares, a secretaria, os professores, seu salário, suas condições de trabalho, o aluno, sua família, os demais funcionários, os coordenadores pedagógicos, o material didático disponível etc. etc. Mas, no momento de identificar a razão do não aprendizado, apenas um elemento é destacado: o aluno. Só ele é considerado culpado, porque só ele é diretamente punido com a reprovação. Como se tudo, absolutamente tudo, dependesse apenas dele, de seu esforço, de sua inteligência, de sua vontade. Para que, então, serve a escola?
Essa pergunta, aliás, vem bem a propósito da forma equivocada e anti-científica como se concebe o ensino tradicional ainda dominante entre nós. Apesar de a Didática ter reiteradamente demonstrado a completa ineficiência do prêmio e do castigo como motivações para o aprendizado significativo, ainda se lança mão generalizadamente da ameaça da reprovação como recurso pedagógico. Segundo esse hábito, revelador, no mínimo, da total ignorância dos fundamentos da ação educativa, à escola compete apenas passar informações, ameaçando o aluno com a reprovação caso ele não estude. Daí a grita de professores, pais e imprensa de modo geral contra a retirada da reprovação na adoção dos ciclos, afirmando que, livre da ameaça da reprovação, o aluno não se motiva para o estudo. Ignoram que a verdadeira motivação deve estar no próprio estudo que precisa ser prazeroso e desejado pelo aluno.
Nisso se resume o papel essencial da escola: levar o aluno a querer aprender. Este é um valor que não se adquire geneticamente; é preciso uma consistente relação pedagógica para apreendê-lo. Sem ele, o aluno só estuda para se ver livre do estudo, respondendo a testes e enganando a si, aos examinadores e à sociedade.
Mas defender a retirada da reprovação não significa apoiar “reformas” demagógicas de secretarias de educação com a finalidade de maquiar estatísticas. Essa prática, embora coíba o vício reprovador, nada mais acrescenta para a superação do mau ensino. Com isso, o aluno que, após reiteradas reprovações, abandonava a escola, logo nas primeiras séries, agora consegue chegar às séries finais do ensino, mas continua quase tão analfabeto quanto antes. A diferença é que agora ele passa a incomodar as pessoas, levando os mal informados a porem a culpa pelo mau ensino na progressão continuada. Mas o aluno deixa de aprender, não porque foi aprovado, mas porque o ensino é ruim, coisa que vem acontecendo desde muito antes de se adotar a progressão continuada. Apenas que, antes, esse mesmo aluno permanecia na primeira série, ou se evadia, tão ou mais analfabeto que agora. Mas aí era cômodo, porque ele deixava de constituir problema para o sistema de ensino. Agora, com a aprovação, percebe-se a reiterada incompetência da escola.
Só a consciência desse fato deveria bastar como motivo para se eliminar de vez a prática da reprovação no ensino básico: porque ela tem servido de álibi para a secular incompetência da escola que se exime da culpa que é dela e do sistema que a mantém. A reversão dessa situação exige que o elemento que estrutura a escola básica deixe de ser a reprovação para ser o aprendizado. É preciso reprovar, não os alunos, para encobrir o que há de errado no ensino e isentar o Estado de suas responsabilidades, mas as condições de trabalho, que provocam o mau ensino e impedem o alcance de um direito constitucional.



Vitor Henrique Paro é titular em Educação pela Usp. Foi professor titular nos cursos de graduação e pós-graduação em Educação da Puc-SP e pesquisador sênior da Fundação Carlos Chagas. Atualmente é professor titular no Departamento de Administração Escolar e Economia da Educação da Faculdade de Educação da Usp, onde exerce a docência e a pesquisa na graduação e na pós-graduação.


FONTE: http://www.estadao.com.br/artigodoleitor/htm/2002/fev/15/151.htm

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A vida num instante.

De um momento para o outro a nossa vida muda. Estamos em mudança constante. De um segundo para o outro perdemos pessoas importantes na nossa vida, e por vezes basta um instante para encontrar alguém por quem temos andado a procura a vida toda, e ainda mais um segundo para voltar a perder, para depois conquistar novamente. As mudanças do ciclo de vida são das mais variadas que se pode imaginar. Umas são para melhor. Outras são para pior. Mas todas eles fazem parte da vida. Umas por vezes não custam nada, mudar de estilo, mudar de pensamentos, mudar de emprego. Outras estão rodeiadas de sofrimento. Mudar de pais, mudar de amigos, mudar de amores.
Que acontece quando somos confrontados com estas mudanças e nada podemos fazer para o impedir? Sofremos naturalmente. Mas esse sofrimento fornece a energia necessário para viver. De certo modo sofrer faz com que exista uma vontade de procurar uma situação melhor. E isso implica mais uma mudança. Isto é, na realidade um ciclo vicioso, onde a única forma de o travar é a monotonia. E quem gosta disso? Ninguém. Por isso temos mais é que aceitar estas mudanças. Porque, quer se aceite, quer não, a vida é um instante muito breve onde de um momento para o outro acontece mais uma mudança que não podemos controlar. A morte. A mudança suprema, aquela em que passamos de um mundo para o outro, e não levamos nada conosco, apenas deixamos. Deixamos as recordações com que os vivos ficam de nós, e até essas recordações tem data de validade associada mais uma vez a morte.
Por isso, não devemos tentar fugir as mudanças que cruzam o nosso caminho, mas sim enfrentar cada uma delas com coragem e com a idéia que essa mudança pode ser para melhor.

"A vida são dois dias, o de ontem já passou e o de hoje está a acabar. Amanhã está no incerto. Aproveitam cada nova oportunidade."

Perdas e Ganhos

É difícil lidar com a perda. Além de reafirmar o óbvio, quero dizer que as perdas vem de diferentes maneiras. Existem aquelas irreparáveis, das quais a barreira intransponível entre a vida e a morte ainda não conseguimos burlar, e existem aquelas ocasionadas apenas pelo vai e vem natural dos corpos, universos paralelos, divórcios assinados, cartas de despedida ou simplesmente do silêncio. Essas perdas, além de se materializarem de diferentes maneiras, se apresentam nos mais variados tipos de relacionamentos.

Injusto, esse ir e vir constante, já que independente do grau e condições de temperatura e pressão, cada ser vem e agrega algo em você. Pode ser algo bom ou pode não ser, a questão é que as coisas mudam. E assim, às vezes sem mais nem menos, às vezes bem mais do que menos, nos perdemos e então elas se vão, impedindo-te para sempre de voltar a ser o que era antes.

Pode ser assim, dramático, ou pode passar desapercebido, mas não significa que não aconteça. Entre outras coisas, talvez sejam esses ganhos e essas perdas, esse trânsito humano, que nos faz chegarmos a velhice completamente diferentes do que fomos na juventude.

E, se tivesse que ressaltar um objetivo dessa linha de raciocínio, exposta aqui a julgamentos de valor quanto a breguice e insensatez, seria dizer para você que, apesar de toda abundância de informação que agora flutua na internet, ainda está lendo esse texto, você que possivelmente já perdi por aí, ou talvez de alguma forma faça parte da minha vida, devo dizer que, independente da contabilidade de perdas e ganhos, você é parte constituinte do que sou hoje e do que serei amanhã.

E realmente espero que, mesmo nos perdendo, possamos nos reencontrar por aí.

Texto postado por Anna no Blog "A simples complexidade das coisas"
in memoriam... Profª Tereza Cristina.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Para o início de semana...

E então hoje neste dia, suavemente, sossegadamente, todas as angústias vão embora. Você começa a ler esse post e imagina que suas pálpebras piscam mais vagarosamente, como se alguém as tivesse filmando em slow-motion. Você vê sua vida como um rio que corre e sempre terá o mar. Vê as paisagens bruxelantes ao redor, como se estivesse boiando nesse rio e ainda há muito o que boiar. Ri suavemente dos que tem algum poder e dos que não tem, ri de si mesmo e de sua vida atual. Ri por ser quem é e morar com a mãe, ri por ter vizinhos que quase não conhece, ri da sua tenra idade e das incertezas que lhe cercam. Mas ri de um canto só da boca; não gargalha pois isso lhe seria fatigante e o momento é de bem estar. Ri das coisas inexoráveis, do casamento que vai mal, das coisas todas erradas que lhe aconteceram com seu último par, das contas que vencem e não há como pagar. Indelével, sorri de si e da inveja que nutre por outras pessoas que você sabe que são mais capazes que ti. Respira fundo e encontra uma paz de espírito por saber que tem amigos, familiares, um animal de estimação que lhe causa tantos cuidados e lhe dá tantas satisfações. Lembra de um aniversário seu de tempos passados, quando muitos estavam reunidos por sua causa e lhe ofereciam presentes embrulhados e da satisfação não de os receber - mas de desembrulhá-los. E boiando, peito desnudo, sente o calor do sol e o friozinho da sombra das árvores quando se passa por debaixo delas. E sua vida flui como o rio que terá sempre o mar. E fecha os olhos para as paixões que fustigam demais a mente: o ciúme, a cobiça, a impotência de ser só o que se é. Esquece nesse momento, ato contínuo, os cabelos que não são como gostaria que fossem, as gordurinhas a mais na barriga, os dentes estragados, a alergia desses tempos secos. Tudo passa, tudo passa, e como passa! Lembra de um dia frio em que juntou gravetos e botou fogo e ficou do lado se aquecendo, olhando as chamas que existem e se consomem e já não existem e ainda existem na sua memória. Bruxelantes, como a paisagem à margem do rio. Passadoira, como as árvores à margem do rio. Como as flores à margem do rio que existem e têm perfume e amanhã serão mortas e o perfume não mais existirá a não ser em sua memória. Pensa que colhe-as e as deita sobre teu peito e que o perfume delas suavize esse momento. Momento de esquecer das frivolidades e preocupações e de deixar fluir a vida que sempre terá o mar. E pensa que amanhã serás sombra, uma imagem na memória de alguém pois terás deixado de existir. E que o frio que refresca a vida do outro que te lembra e o perfume das suas palavras estarão na memória dele. E que não tens responsabilidade sobre essa lembrança; não mais que a responsabilidade que tens de existir e de deixar fluir a vida esquecendo-te de tudo aquilo que não merece ser lembrado. Abstrai. Lembra que sob as árvores que passam, existem formigas que não vês. Reza pelas formigas. Quem pode dizer que elas não rezam por ti?

Depois de uma discussão, pode bem você baixar a cabeça e dizer para quem está ao teu lado: perdoa! Independente da resposta do outro, fecha os olhos, abre os braços e deixa-te boiar rumo ao mar.

Boa semana a todos.