Uma teoria recente, o ciclo de formação humana, inicia-se em 2010 na rede pública. As chamadas turmas seriadas estão perdendo espaço. Isso porque um aluno pode em tese, ter que refazer um ano letivo. Essa prática é desoladora para o discente e cara para o país. No ciclo, não há reprovação, há retenção, ou seja, o educando segue adiante condicionado a recuperar aprendizagens não cumpridas. A partir de 2010, não existirá reprovações nem retenções: haverá progressão automática. Tudo passará a ser subjetivo o que, de forma semelhante às notas, também abre espaço para arbítrios. Etnias, cor, gênero, idade, status social e ocupação profissional são aspectos do subjetivismo que a rigor, podem levar à condescendências e predileções perversas. Essa abordagem valerá para educandos de todos os perfis: para avessos à leitura; plagiadores internautas; optantes da desídia e aos que "curtem" um "recreio" perpétuo. O automatismo das progressões beneficiará alunos que ignoram regras, desagregam turmas, intimidam colegas e ostenta soberba. Felizmente, esses são minorias, outra notável clientela escolar é amistosa e colaborativa.
Chega a ser impressionante a criatividade dos teóricos da educação. Abrem a caixa de pandora e tiram de lá uma fórmula secreta que transcende a lógica e o senso de normalidade. As idéias desses pensadores visionários parecem calcadas em alicerces de vento. Quais seriam, afinal, os problemas associados a essa progressão automática? Provavelmente, uma permissividade completa. A teoria não convence os pares e acaba por criar uma trajetória oblíqua daquela que segue outras instituições quando seus mecanismos internos de funcionamento se mostram imperfeitos.
Muitos provavelmente concordam que o poder das notas criou um sistema educacional arbitrário fazendo alunos refazerem um ano letivo por que não conseguiram dois décimos a mais. Regras assim certamente abriram caminho para truculências e devaneios de falsos poderes professorais. Ainda bem que essa métrica insana ficou confinada no passado. Contudo, nossas mentes mais "humanizadas" estão apontando para um principio também temerário, qual seja, a supressão total das medidas quantitativas. Há uma vasta teoria sobre este assunto, basta dizer que para os teóricos afiliados a essa corrente, os sistemas de medidas destroem a afetividade e geram um ambiente de vaidade e competição. Como alternativa acenam para a bravata de um "mundo fantasticamente lúdico" e "belo". Se a avaliação quantitativa não ia bem reformula-lá era uma opção, no entando, opta-se pelo seu aniquilamento.
Vejamos alguns acontecimentos recentes que coloca a filosofia escolar em rota de colisão com o pensamento civilizatório atual. Avaliações quantitativas medem até samba carnavalesco, o desempenho futebolístico, o mérito dos candidatos nos concursos e a aptidão de profissionais nas empresas. Sistemas de pontos graduam a confiabilidade da economia, enquanto quantidade de votos confere legimitidade ao político. A própria educação quantifica pontos no Saeb, Enem e na Prova Brasil. Na escola avaliar quantitativamente para reter/reprovar se tornou um símbolo de crueldade. A rejeição absoluta das notas se apresenta como a mais recente quimera da educação.
* PAULO CÉZAR DE SOUZA é mestre em economia, gestor governamental e educador da rede estadual
cezar.paulo@ig.com.br
publicado em 8/11/2009 no jornal DIÁRIO DE CUIABÁ - MT
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