(*)Paulo Monteiro
Como uma infecção generalizada a violência espalha-se pela sociedade, independentemente de classe social, nível cultural ou local de moradia. Sentimo-nos impotentes diante da proliferação da violência.
Os atos violentos contra a vida e o patrimônio aterrorizam as comunidades escolares. Os atentados não mais se restringem a ações isoladas de indivíduos degenerados, agora aparecem verdadeiras comunidades anormais atentando contra tudo e contra todos.
Há tempos cientistas que se dedicaram a estudar a origem da violência concluíram que está ligada ao complexo de inferioridade. O complexo de inferioridade é a forma ilusória, simbólica, assumida pela impossibilidade de superar o mais forte. Historicamente, adolescentes e jovens sempre manifestaram sua inferioridade diante da hegemonia dos mais velhos.
Toda e qualquer hegemonia, nas sociedades civilizadas, se manifesta através do Estado. Toda a contestação juvenil tem sido dirigida contra o Estado.
Recebemos, diariamente, uma carga enorme de notícias sobre corrupção em todos os níveis estatais, da prefeitura do calcanhar-do-judas aos magistrados supremos da Nação. Enquanto os presídios estão cheios de ladrões de quinquilharias, saqueadores dos cofres públicos são mantidos em liberdade. A impressão que o cidadão comum adquire é a de que é livre roubar e dilapidar o patrimônio público.
Ensinaram-nos que podemos mudar pelo voto e continuamos sob a hegemonia de ladrões da coisa pública. A incapacidade da política do voto para administrar o Estado – seguindo a clássica lição de Clauseritz – continuará através da guerra social, da violência generalizada.
A popularização do ensino espalhou escolas pelo país. Em cada uma delas e em cada professor ou funcionário está a presença física do Estado. Postado ostensivamente diante dos cidadãos um templo erguido em honra dos ladrões impedidos de condução sob algemas para os presídios, agora reservados aos deserdados da Lei.
A violência na escola é uma violência contra a escola. É um ataque de morte contra o Estado corrupto e corruptor. Impossibilitados de espancar os criminosos do colarinho branco espancam professores e funcionários de escola. Em cada escola arrombada e depredada o que vemos é a extravasão do complexo de inferioridade diante da corrupção nos altos escalões do serviço público.
A violência na escola é uma violência contra a Escola, porque é a manifestação visível contra um Estado, que transformou em regra os versos de uma canção gravada por Pedro Ortaça: “Ladrão é quem rouba pouco; quem rouba muito é barão”.
(*) Poeta, historiador e presidente da Academia Passo-Fundense de Letras.
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